Blog criado por ela, chega a 365 publicações em que fala de
acontecimentos corriqueiros e expõe as dificuldades de ser mulher, mãe, preta,
nordestina, morando na capital do país
A jornalista campinense, Waleska
Barbosa, 43, formada na Universidade Estadual da Paraíba, consolida sua
carreira como escritora. O blog www.umpordiawb.com.br,
criado por ela, acaba de completar um ano.
São 365 textos – crônicas, prosas
poéticas e poesias – que esmiúçam a vida, o dia a dia de Brasília (cidade onde
está radicada há 19 anos), trazem memórias da família e de sua terra natal e
discutem temas caros às mulheres, como machismo, maternidade, feminicídio. Os textos
também narram a descoberta de ser uma mulher preta e o reforço desta
identidade, dia a dia, em uma sociedade racista.
“Decidir criar o blog é o
pagamento de uma dívida que tinha comigo e com o meu pai, o enfermeiro Manuel
Barbosa, que sempre me incentivou a ler a e a escrever. Era a primeira coisa
que dizia ao telefone: está lendo? E quando eu perguntava o quê, ele respondia.
– Qualquer coisa”, afirma. Para ele, a leitura era fundamental para a escrita.
“Meu pai sempre acreditou no meu talento com as palavras”, acrescenta.
A mãe de Morena, 9, acredita que
a escrita é uma ferramenta de cura e autoconhecimento. A criação do hábito de
fazer textos diários fez com que ganhasse mais segurança, conhecesse seu
estilo, perdesse o medo de se expor e de falar.
“Em uma sociedade patriarcal onde
as mulheres historicamente foram invisibilizadas e, destituídas de seu direito
de falar, começar a quebrar o silêncio é fundamental. E difícil. Mas quando a
gente começa, não tem volta”, diz. Para Waleska, a chegada ao texto 365 a torna
mais forte. Mais consciente. Mais curiosa. Mais leitora. Mais informada. Mais
preta. Mais mulher. Mais presença nos lugares em que ocupa.
Por causa da repercussão do blog,
ela virou colunista do Bora Cronicar e do Mães que Escrevem, espaços compostos
por mulheres. Está com dois textos n’O Livro das Marias, coletânea organizada
pela integrante do Mulherio das Letras, a paraibana Jeovânia Pinheiro. Tem crônicas
publicadas também na revista LiteraLivre.
Outra novidade, é que os
originais do livro “Que o nosso olhar não se acostume às ausências”, com textos
coletados do blog, estão prontos e ela está à procura de uma editora.
Em sessenta e quatro textos, a
obra condensa a mistura de um nordeste que carrega como raiz, ao tempo em que
agita seus galhos/olhos/alma por ambientes urbanos e cosmopolitas, internos ou
do mundo, revelando o próprio olhar – para histórias que lhes foram narradas.
Para as que viveu. Para as que viu outras mulheres vivendo. Para as que não
desejaria para ninguém. Para as que sonha para todas. O livro tem gênero. É
feminino. É feminista. É mulher.
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