Em entrevista a canal conhecido por espalhar mentiras sobre a pandemia, ministro da Saúde diz que utilização da proteção deve ser uma questão de "conscientização" e condena a "indústria da multa" que pune quem não faz uso do equipamento
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou ontem (18/8) ser contra o uso obrigatório da máscara como medida de proteção à covid-19 e que também não aceita a aplicação de multas a quem não usa a proteção. A manifestação foi em entrevista ao canal bolsonarista Terça Livre, conhecido pela divulgação de mentiras sobre a pandemia de covid-19, ataques à vacinação e defesa de medicamentos ineficazes no tratamento contra o novo coronavírus. Estudos científicos apontam a eficácia da proteção facial como estratégia contra a disseminação da infecção — a medida foi adotada em grande parte dos países.
“Nós somos contra essa questão de obrigatoriedade (do uso de máscara). O Brasil é um país que tem muitas leis e que as pessoas, infelizmente, não as observam. O uso da máscara tem de ser um ato de conscientização”, disse Queiroga.
Ele acrescentou que “não têm sentido essas multas (contra quem não usa a máscara). Não se pode criar uma ‘indústria de multa’. Imagina! Estão multando as pessoas porque não estão com máscara. Se está precisando fazer isso, é porque não estamos sendo eficientes em conscientizar a população sobre o uso desse equipamento de proteção individual”.
Queiroga sequer citou estudos que apontam ser a máscara importante tanto para quem usa quanto para quem está ao redor. Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro promove aglomerações e, rotineiramente, não usa a proteção. Por causa disso, foi multado mais de uma vez em São Paulo e no Maranhão.
O ministro sempre evitou se posicionar claramente sobre o uso da máscara. Na CPI da Covid, indagado sobre orientar Bolsonaro a usar o equipamento, respondeu: “Sou ministro da Saúde, não sou censor do presidente da República. Faço parte de um governo; presidente não é julgado pelo ministro da Saúde. As recomendações sanitárias estão postas, cabe a todos aderir a essas recomendações. A primeira atitude minha foi editar uma portaria para obrigar o uso de máscara no Ministério da Saúde”, garantiu, quando prestou depoimento em 8 de junho.
Em 14 de julho, numa reunião com deputados, Queiroga confirmou que, a pedido do presidente, encomendou um estudo para avaliar a hipótese de derrubar a obrigatoriedade do uso de máscaras. A pesquisa está a cargo do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério e ele disse que aguarda uma conclusão para emitir um parecer.
No último dia 8, durante discurso na inauguração da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Paranoá, em Brasília, o ministro afirmou que até o fim deste ano a vacinação estará tão adiantada que a população brasileira vai “poder tirar de uma vez por todas essas máscaras”. E em 12 de agosto, durante cerimônia de cumprimento aos oficiais generais recém-promovidos, no Palácio do Planalto, o locutor chegou a dizer que o uso da máscara era “opcional”.
O alinhamento ao bolsonarismo em temas ligados à pandemia chegou até a Procuradoria-Geral da República, que se manifestou sobre o uso de máscaras de proteção. Na última terça-feira, a subprocuradora-geral Lindôra Araújo, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que não vê crime no fato de o presidente da República sair sem a proteção e causar aglomeração em eventos públicos durante a pandemia. Para ela, não é possível confirmar a “exata da eficácia” do equipamento “como meio de prevenir a propagação do novo coronavírus”.
Poucas convicções
18 de agosto
“Nós somos contra essa questão de obrigatoriedade. O Brasil é um país que tem muitas leis e que as pessoas, infelizmente, não as observam. O uso da máscara tem de ser um ato de conscientização”
8 de junho
“As recomendações sanitárias estão postas, cabe a todos aderir a essas recomendações. Primeira atitude minha foi editar uma portaria para obrigar o uso de máscara no Ministério da Saúde”
8 de agosto
“Até o final do ano, poremos fim ao caráter pandêmico dessa doença no Brasil e vamos poder tirar de uma vez por todas essas máscaras”
(Com Ingrid Soares e Maria Eduarda Cardim)/CorreioBraziliense
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