Globo deverá ficar praticamente sem futebol no 1º semestre de 2022


Com objetivo de reduzir despesas, a Globo deverá passar boa parte do primeiro semestre de 2022 com pouquíssimas exibições ao vivo de eventos esportivos em sua grade. Algo incomum para a emissora, presente em grande parte dos lares brasileiros aos domingos e às quartas-feiras de futebol.

O grupo carioca, depois de romper com a Conmebol e ver a Copa Libertadores e a Copa América migrarem para o SBT, acaba de perder o Campeonato Paulista para a Record. A emissora do bispo Edir Macedo não televisiona um confronto da competição desde 2005, algo feito simultaneamente com a Globo na época.

Em seu portfólio, a Globo tem garantido para o ano que vem o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.

A empresa segue ordens do seu departamento financeiro para reajustar suas finanças em relação à exibição de eventos esportivos. Embora seja a emissora carioca a que mais ostente estrutura e profissionais capacitados para realizar as transmissões.

A diminuição de receita com publicidade e o aumento de despesas fizeram a Globo registrar uma queda de 78% em seu lucro líquido em 2020, em relação ao ano anterior -de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões.

A mudança de postura no mercado de direitos de transmissão não afetou somente o futebol. A emissora abriu mão da renovação com a F1 no final do ano passado e viu a Band garantir a modalidade até 2022. O produto fazia parte do portfólio do canal desde 1972 (de forma ininterrupta desde 1981).

Na concorrência pelo Paulista, a emissora seguiu a cartilha e não se esforçou nem para cobrir a segunda melhor proposta, a do SBT. A Record terá exclusividade na televisão aberta pelos próximos quatro anos, de 2022 a 2025.

A Record já detém os direitos do Estadual do Rio de Janeiro, que rompeu com a Globo em julho de 2020. A empresa também tem interesse nos estaduais de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.

Tradicional vitrine do Campeonato Paulista, conforme revelou o Painel, a Globo desembolsava R$ 225 milhões para ter a exclusividade em todas as mídias (TV aberta, paga e pay-per-view). A emissora não pretendia gastar nenhum centavo a mais, mas por outro lado, também não abriria mão de nenhuma das opções de transmissão.

O acordo pelo estadual ficou distante quando a FPF anunciou em julho que o Youtube exibirá 16 partidas da edição de 2022, ao vivo -um jogo por rodada, um duelo pelas quartas de final, um da semifinal e as duas partidas da decisão.

Além dos confrontos, o YouTube também terá conteúdo de todos os jogos da competição, como melhores momentos, curiosidades e entrevistas.

Além da concorrência pelo controle remoto, os grupos de mídia lidam com o mercado de streaming cada vez mais estruturado.

“O hábito de consumo de conteúdo digital cresceu muito em um curto espaço de tempo, ampliando assim o público disposto a consumir esse serviço e derrubando uma série de barreiras culturais que existiam”, diz Guilherme Figueiredo, da NSports, plataforma de streaming esportivo.

“A gente está vivendo um período de redistribuição nos conteúdos de futebol, seja o ao vivo ou o de entretenimento, como documentários e séries. Isso tem muito a ver com a chegada do streaming, que tem diminuído a força do modelo de distribuição em massa da TV aberta”, afirma Bruno Maia, da Feel The Match e especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte.

Para ele, a tendência é que a oferta de futebol na TV aberta diminua cada vez mais.

Ao fatiar os direitos de transmissão, as entidades e os clubes de futebol vislumbram novas e maiores receitas. Além da Record e do Youtube, a FPF ainda negocia a comercialização do pacote pay-per-view.

Este último a Globo ainda negocia com a entidade, porque depende do produto para manter ativo a comercialização dos seus pacotes Premiere do Campeonato Brasileiro, cuja assinatura mensal vai de R$ 49 a R$ 89 e inclui o Estadual como um “bônus”.

A preocupação da Globo na TV aberta é de como irá preencher as lacunas em sua programação, principalmente nos primeiros meses de 2022.

Na esteira dos cortes de gastos em razão da crise do coronavírus, a Globo rescindiu unilateralmente, em agosto do ano passado, o contrato com a Conmebol pela Copa Libertadores, que era válido até o final de 2022.

A Globo e o SporTV, seu braço esportivo em canal por assinatura, pagavam anualmente US$ 65 milhões pelos direitos de transmissão (R$ 353 milhões, no câmbio atual).

Logo após o decreto da pandemia, a emissora alegou que sofria com a queda de receitas e solicitou uma renegociação de valores com a entidade que comanda o futebol na América do Sul, mas não houve acordo.

O desfecho não foi tão favorável para Globo, que apostava em um recuo da Conmebol e, consequentemente, uma contraproposta. A rescisão unilateral causou perplexidade entre a cúpula da Conmebol, que não aceitou nova rodada de negociação com a emissora carioca e selou acordo com o SBT.

Nesse mesmo período, a Globo também tentou uma renegociação do contrato da Copa do Mundo de 2022 com a Fifa. Dessa vez, a empresa apelou à 6ª Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro para não pagar de forma imediata o valor de US$ 90 milhões (R$ 490 milhões, no câmbio atual) com vencimento em junho de 2020, referente a uma parcela do contrato de direitos de transmissão celebrado para o período de 2015 a 2022.

A Globo conseguiu a liminar, mas o caso deveria ser solucionado na Justiça da Suíça, onde fica a sede da Fifa. No entanto, o grupo de mídia e a entidade chegaram a um acordo comercial, e o processo foi arquivado.

Os termos desse acordo são confidenciais. Porém, a Globo, que transmite a Copa do Mundo desde 1970, receosa de perder o produto, cedeu aos pedidos da entidade que controla, além do futebol, o futebol de areia e o futsal.

A emissora, de forma inédita, transmitiu ao vivo a participação do Brasil nos Mundiais dessas duas modalidades, sendo o futebol de areia em agosto e o de futsal neste mês.

O pacote pela Copa do Mundo também contempla os Mundiais feminino e das categorias de base, sub-17 e sub-20.

Procurada pela reportagem, a Globo não se manifestou até a publicação deste texto.



 SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

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